Logística reversa e economia circular são estratégias integradas que promovem a redução de desperdícios na cadeia produtiva, o reaproveitamento de recursos e a sustentabilidade industrial ao longo de todo o ciclo de vida do produto. Saiba mais

Grande parte das empresas adotam uma economia linear, em que os recursos são utilizados em uma única linha, com começo, meio e fim. Porém, esse modo já é considerado ultrapassado para a realidade em que vivemos atualmente.

O ideal é que as organizações adotem uma economia circular, que se destacam por ter um design regenerativo, em que os recursos são reutilizados. Nesse campo, a logística reversa se destaca.

Edson Grandisoli, coordenador pedagógico do Movimento Circular, conversou conosco sobre esse tema. Ele é mestre em Ecologia, doutor em Educação e Sustentabilidade e pós-doutor pelo Programa Cidades Globais. 

Continue a leitura e veja o que o especialista disse sobre esse tema tão relevante para o meio logístico.

Economia circular: entenda o que é 

“Economia circular é um novo modelo que propõe uma nova organização no fluxo de extração, produção, consumo e descarte, tornando-o mais circular em contraposição ao modelo linear e insustentável ainda em vigor”, define Grandisoli.

No entender do especialista, a economia circular estimula o reuso de materiais que já estão em circulação e a reciclagem no final do processo. 

“Esses dois pontos fazem com que a extração de recursos naturais gradativamente diminua e também a geração de resíduos no final da cadeia”, opina.

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A importância da economia circular para as empresas 

Adotar a economia circular vai muito além de uma escolha ambiental: trata-se de uma estratégia de negócios que transforma a forma como as empresas se relacionam com seus produtos, fornecedores e consumidores. 

Ao integrar práticas circulares, as organizações passam a influenciar positivamente toda a cadeia de valor — do desenvolvimento ao descarte — gerando novos modelos de negócio, economizando recursos naturais e fortalecendo a conexão com um público cada vez mais atento à sustentabilidade.

No Brasil, esse movimento encontra respaldo legal na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), que estabelece princípios como o desenvolvimento sustentável no setor industrial, a redução de desperdícios na cadeia produtiva, e a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. 

A lei torna obrigatória a logística reversa para diversos setores — como eletroeletrônicos, medicamentos, pneus, óleos lubrificantes e embalagens — e reforça a importância da integração da logística reversa nos negócios como parte de uma cadeia de suprimentos sustentável.

Ao cumprir essas diretrizes, as empresas não apenas se adequam às exigências legais, mas também avançam rumo a um modelo de economia regenerativa, que reduz impactos ambientais e cria valor ao longo dos fluxos reversos de logística. O resultado é um posicionamento mais competitivo, alinhado às práticas de ESG e às expectativas da sociedade.

O papel da logística reversa na economia circular

A logística reversa ocupa um papel importante na economia circular, a ponto de um sistema não funcionar se o outro não estiver bem estruturado.

Sobre esse assunto, Grandisoli disserta: 

“A logística reversa ocupa papel central na economia circular. Ela é formada por diferentes ferramentas e métodos, que visam garantir que o material que inicialmente ganharia o aterro ou lixão retorne ao setor empresarial para ser reutilizado ou destinado adequadamente”.

Ele ainda explica que: “A logística reversa ainda é vista como despesa para muitas empresas, mas ela é fundamental para um novo modelo de economia, que vise a sustentabilidade. É preciso que se criem políticas públicas e linhas de investimento para acelerar esse processo”.

Corresponsabilidade: todos têm um papel na logística reversa

A Política Nacional de Resíduos Sólidos introduziu o princípio da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, o que significa que fabricantes, distribuidores, comerciantes, consumidores e o poder público devem agir em conjunto. Não basta que uma empresa faça sua parte: a integração da logística reversa nos negócios precisa envolver toda a rede, da produção ao pós-consumo.

Ao adotar essa postura, as empresas contribuem para uma cadeia de suprimentos sustentável, reduzem custos associados ao descarte inadequado e se alinham aos valores da economia regenerativa — onde todos os agentes são corresponsáveis pelo impacto ambiental gerado.

Tipos de logística reversa: pós-venda, pós-consumo e reuso

Existem diferentes formas de implementar a logística reversa, e cada uma delas atende a necessidades específicas dentro do ciclo de vida dos produtos:

  • Pós-venda: ocorre quando há devolução de itens com defeito, erro no pedido ou cancelamento. Esses produtos retornam à empresa para reaproveitamento, troca ou descarte correto.
  • Pós-consumo: envolve o retorno de produtos e embalagens após o uso final pelo consumidor, como eletroeletrônicos, baterias e lâmpadas.
  • Reuso: refere-se à reutilização de embalagens, peças ou produtos inteiros, muitas vezes com reaplicação direta, sem necessidade de transformação.

Entender essas categorias ajuda as empresas a estruturarem seus fluxos logísticos de forma estratégica e integrada.

Logística reversa como caminho para a remanufatura e o reuso de recursos

Ao trazer de volta resíduos e materiais descartados, a logística reversa abre espaço para práticas como a remanufatura, que recupera produtos danificados para reinserção no mercado com desempenho equivalente ao original. O mesmo vale para o reuso de componentes, embalagens e matérias-primas.

Essas ações são parte do esforço de redução de desperdícios na cadeia produtiva, com impactos diretos na produtividade e na reputação da marca. Quanto mais cedo a empresa enxergar valor nos fluxos reversos de logística, mais preparada estará para liderar a transição rumo a um sistema realmente circular.

Dicas para desenvolver ações de logística reversa na empresa

Perguntamos a Grandisoli quais dicas ele daria para as empresas que desejam adotar a logística reversa em suas operações.

Respondendo a esse questionamento, o especialista diz:

“Em uma economia circular, a responsabilidade pelos produtos e materiais é de toda a cadeia, e não somente das empresas. Essa noção de responsabilidade compartilhada deve estimular ainda mais o diálogo intersetorial na busca por soluções à instalação de processos de logística reversa”.

Ele complementa explicando mais: “O resíduo de um, pode ser o insumo do outro. Para além de considerar a questão econômica, devemos procurar soluções por meio de parcerias. Em um mercado focado somente na competitividade, sempre haverá quem perde, e um deles é o meio ambiente”.

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Como consumidores, empresas e governo podem atuar juntos

A logística reversa e economia circular só funcionam quando todos — consumidores, empresas e governos — assumem seu papel na transformação. Essa corresponsabilidade é o que torna uma cadeia de suprimentos sustentável e promove um modelo baseado na economia regenerativa. Veja como cada agente pode contribuir:

Consumidores

  • Realizar o descarte correto de resíduos e produtos
  • Participar ativamente da coleta seletiva;
  • Priorizar produtos sustentáveis, recicláveis ou com menor impacto ambiental;
  • Engajar-se em programas de devolução ou reuso, sempre que possível;
  • Incentivar marcas que adotam práticas alinhadas ao ciclo de vida do produto.

Empresas

  • Desenvolver embalagens recicláveis ou reutilizáveis;
  • Estabelecer pontos de coleta e canais de retorno para produtos usados;
  • Investir em remanufatura, reuso e outras formas de reaproveitamento de materiais;
  • Comunicar com clareza como o consumidor pode participar da logística reversa;
  • Integrar a logística reversa nos negócios, reduzindo desperdícios e gerando valor ambiental e econômico.

Governo

  • Criar e fortalecer políticas públicas de apoio à economia circular;
  • Garantir a fiscalização do cumprimento da legislação, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
  • Estimular parcerias público-privadas para expansão da logística reversa;
  • Investir em infraestrutura, educação ambiental e incentivos para empresas comprometidas;
  • Promover o desenvolvimento sustentável no setor industrial com foco em longo prazo.

A integração entre logística reversa e economia circular não é mais apenas uma vantagem competitiva — é uma necessidade estratégica para quem deseja construir um setor mais resiliente, inovador e sustentável. 

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A colaboração entre empresas, consumidores e governo fortalece a sustentabilidade industrial, impulsiona a redução de desperdícios na cadeia produtiva e estimula o surgimento de soluções alinhadas ao futuro da indústria.