A proposta de construção da Ferrovia Transoceânica — um ambicioso corredor ferroviário ligando o oceano Atlântico, no Brasil, ao oceano Pacífico, atravessando países como Bolívia e Peru — volta ao centro dos debates sobre infraestrutura e integração sul-americana. 

Trata-se de uma obra de proporções continentais, que promete não apenas transformar a logística regional, mas também redefinir a geopolítica do comércio internacional.

Para compreender as dimensões técnicas, econômicas, ambientais e estratégicas desse projeto, conversamos com Urubatan Filho, professor e coordenador do curso de MBA em Gestão Ferroviária pelo IPOS Especialização. 

O nosso convidado analisou os principais obstáculos e potencialidades da ferrovia que poderá unir dois oceanos e diversas nações. Leia a seguir!

Ferrovia Transoceânica: a engenharia de ponta e os obstáculos naturais

A construção da Ferrovia Transoceânica esbarra em desafios técnicos monumentais. Urubatan explica que o traçado atravessa regiões de relevo extremamente acidentado, exigindo obras de engenharia de alta complexidade.

“Estamos falando de uma ferrovia que cortará áreas de relevo acidentado, incluindo trechos da Cordilheira dos Andes, exigindo obras de grande complexidade, como túneis e pontes”, aponta.

A travessia dos Andes, por si só, demanda soluções de engenharia avançada e planejamento logístico sofisticado. O custo de implantação é um dos principais entraves. 

“No aspecto econômico, tende a ser um investimento de bilhões de dólares que precisa de um modelo sustentável de financiamento e de viabilidade comercial”, destaca Urubatan.

Além disso, há a necessidade de compatibilização entre as diferentes malhas ferroviárias dos países envolvidos, que hoje têm normas e prioridades distintas — outro obstáculo técnico de grande relevância.

Sustentabilidade e respeito aos territórios

Os impactos ambientais e sociais da ferrovia também estão no centro das discussões. O traçado proposto passa por áreas sensíveis, incluindo regiões de floresta e proximidade com territórios indígenas.

“Isso exige soluções que minimizem impactos e garantam a integração com as comunidades locais”, alerta o professor Urubatan.

O especialista ressalta que o desenvolvimento da infraestrutura deve estar alinhado com diretrizes de sustentabilidade, preservação ambiental e respeito às populações originárias. 

Ele destaca que projetos mal conduzidos podem gerar desequilíbrios sociais e ambientais duradouros.

Vetor de desenvolvimento regional: o potencial da Ferrovia Transoceânica

Apesar dos grandes desafios, o potencial transformador da Ferrovia Transoceânica é igualmente expressivo. Urubatan vê o projeto como uma oportunidade para reconfigurar a logística sul-americana e impulsionar o crescimento econômico em regiões hoje isoladas.

“Se um dia for realidade, a Ferrovia Transoceânica poderá ser um divisor de águas para a logística e a economia da América do Sul”, afirma.

A ferrovia permitiria ao Brasil reduzir a sua dependência histórica dos portos do Atlântico, abrindo caminho para o escoamento de mercadorias rumo ao Pacífico e, de lá, para os mercados asiáticos.

“Isso significa menos custos logísticos, mais competitividade para nossas exportações e maior atração de investimentos”, diz Urubatan.

Além dos ganhos macroeconômicos, o especialista destaca os impactos locais: geração de empregos, industrialização e desenvolvimento de cidades ao longo do traçado da ferrovia.

Um jogo geopolítico de grandes proporções

Mais do que uma obra de engenharia, a Ferrovia Transoceânica pode se tornar uma peça-chave no tabuleiro da geopolítica global. Urubatan observa que os interesses de grandes potências, como a China, estão diretamente ligados à execução do projeto.

“A geopolítica desse projeto talvez seja a força motriz desse projeto. A Ferrovia Transoceânica não é apenas um empreendimento logístico; é um movimento estratégico que pode reposicionar o Brasil no tabuleiro do comércio internacional.”

A China, por exemplo, tem interesse direto na ferrovia, pois a nova rota encurtaria distâncias e reduziria custos na importação de commodities brasileiras. No entanto, o professor adverte para os riscos de uma integração assimétrica.

“Há uma questão fundamental: quem será o responsável por essa ferrovia? Será uma via de integração equilibrada ou um eixo de influência estrangeira na América do Sul?”

Ferrovia Transoceânica na NT Expo

Se implantada com equilíbrio entre interesses econômicos, sociais e ambientais, a Ferrovia Transoceânica poderá, de fato, redefinir os caminhos do desenvolvimento na região — e posicionar o Brasil como protagonista de uma nova era logística no continente.

Urubatan Filho falará mais sobre esse assunto em um painel da NT Expo 2025, de 22 a 24 de abril, no Distrito Anhembi, em São Paulo. Faça já a sua inscrição e participe!

O painel “Ferrovia Transoceânica: sonho ou realidade? também terá a participação de Jean Pejo (ALAF Brasil), José Villafane (ALAF Argentina), Cícero Rodrigues de Melo Filho (INFRA SA), e João Carlos Parkinson (Ministério das Relações Exteriores).