Depois de décadas de desinvestimento e desmonte da malha ferroviária nacional, o Brasil parece viver uma nova fase de atenção ao modal.
Seja pelo potencial de redução de custos logísticos, seja pelos impactos ambientais mais positivos, as ferrovias estão recebendo mais investimentos nos últimos anos.
Porém, apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta entraves relevantes, como a redução da malha operante, a baixa integração entre operadores, entre outros.
Para entender os desafios e as oportunidades que cercam o futuro das concessões ferroviárias, conversamos com Luis Henrique Teixeira Baldez, presidente executivo da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (ANUT).
Veja mais do que ele nos disse a seguir!
O legado da privatização e os desafios ainda presentes
“A privatização do setor ferroviário nos anos 1990 trouxe uma série de benefícios como a recuperação dos negócios de transportes, com investimentos e modernização dos ativos operacionais”, diz Baldez.
De acordo com ele: “A produção de transportes cresceu, os investimentos foram aplicados, houve redução de acidentes, melhoria de eficiência, o que permitiu um certo nível de modernização setorial”.
Apesar das conquistas, Baldez destaca que muitos problemas estruturais permanecem, tais como:
- Redução da extensão da malha ferroviária de 30 mil km para cerca de 10 mil km em plena operação;
- Falta de compartilhamento de via – apenas 10% da produção de transporte é realizada nessa modalidade;
- Falta de integração e interoperabilidade;
- Insegurança quanto a investimentos em expansão da malha; e
- Concentração da carga transportada – 80% da malha é ocupada com um único produto: minério de ferro.
O desafio das devoluções de trechos
Com a devolução de trechos ferroviários por concessionárias que os consideram economicamente inviáveis, surgem desafios e oportunidades.
Baldez aponta que é preciso repensar o modelo para garantir um transporte ferroviário robusto: “Na visão dos usuários, inúmeros desafios precisam ser enfrentados para dar ao setor ferroviário a estrutura robusta e eficiente que precisa ter para suportar o tamanho da economia brasileira e, assim, contribuir para a redução de custos logísticos”.
Para o presidente da ANUT, entre os pontos que demandam atenção imediata estão:
- Viabilidade da competição intramodal com a operação de Agente Ferroviário de Transporte (ATF);
- Modelos de parceria com compartilhamento de infraestrutura da exploração da via;
- Viabilização de recursos gerados no setor para aplicação no próprio setor;
- Regulamentação integral da Lei das Ferrovias (nº 14.273/2021); e
- Modelo de parceria para investimento e operação dos trechos abandonados.
As shortlines como alternativa de revitalização
O modelo das shortlines — pequenas linhas ferroviárias regionais, comuns nos Estados Unidos — surge como uma aposta estratégica para recuperar trechos subutilizados ou abandonados no Brasil.
“Existe sim esta possibilidade, porém duas condições são necessárias para sua viabilização”, diz Baldez.
O executivo afirma que: “É preciso aplicar o valor da indenização no próprio trecho para, em composição com recursos dos interessados, compor o fundo de recuperação da via.”
Além disso, ele acredita ser fundamental assegurar o compartilhamento com linhas conectadas na modalidade de direito de passagem, de preferência, ou por tráfego mútuo.
Apesar de reconhecer o modelo norte-americano de tráfego mútuo, Baldez pondera: “O tráfego mútuo é a forma como funciona nos EUA, porém, a nosso ver, é uma operação mais cara e com menor potencial competitivo que o direito de passagem.”
De acordo com o especialista, o modelo das shortlines faz sentido para o Brasil porque é uma forma de recuperar enorme extensão de trechos abandonados supostamente inviáveis.
Caminhos para o futuro na NT Expo 2025
O cenário de 2025 mostra um setor ferroviário em transição, buscando mais eficiência, diversificação e capilaridade.
Para isso, segundo Baldez, será necessário um esforço conjunto entre governo, iniciativa privada e usuários para criar um ecossistema regulatório, econômico e operacional que valorize a ferrovia como vetor de desenvolvimento nacional.
A regulamentação integral da nova Lei das Ferrovias, a promoção da interoperabilidade entre operadoras, e a viabilização das shortlines são apenas alguns passos urgentes.
Se bem implementados, eles podem transformar o setor ferroviário em um pilar da competitividade logística brasileira nas próximas décadas.
Baldez falará mais sobre o tema na NT Expo 2025, de 22 a 24 de abril, no Distrito Anhembi. Faça a sua inscrição agora!
O painel “Trilhos devolvidos: qual é o futuro das concessões ferroviárias de carga?” também terá a participação de Vicente Abate (ABIFER), Yuri Faria Pontual de Moraes (ANTF), e Alessandro Baumgartner (ANTT).