Em entrevista exclusiva ao Intermodal Cast, Pedro Moreira destacou a disparidade competitiva enfrentada pelas empresas brasileiras: enquanto o custo logístico no Brasil representa entre 13% e 17% do PIB, na Europa esse percentual fica entre 10% e 11%, e nos Estados Unidos em torno de 9%.

“É muito dinheiro que precisamos trabalhar para reduzir custos e tornar as empresas mais eficientes. Parte dessa diferença é ineficiência, tempo de trânsito e estoque sobre rodas”, explicou o presidente durante o podcast oficial da Intermodal, considerado o maior evento de logística das Américas.

Novos comitês para enfrentar desafios estruturais

Para combater essa desvantagem competitiva, a ABRALOG lançará dois novos comitês estratégicos no segundo semestre:

  • Comitê de Agronegócio e Commodities: focado em soluções para um setor que representa parcela significativa do PIB brasileiro e enfrenta constantes desafios logísticos
  • Comitê de Multimodalidade: dedicado a estimular a integração entre diferentes modais de transporte

“O Brasil tem fontes fantásticas, uma costa maravilhosa, bacia hídrica muito grande, possibilidade de ampliar a ferrovia. E dependemos muito do rodoviário. Precisamos ampliar essa integração de modais e criar a multimodalidade através de plataformas logísticas”, defendeu Moreira.

Reforma tributária exige reconfiguração logística urgente

Um alerta importante feito por Moreira refere-se à necessidade imediata de preparação para os impactos da reforma tributária, que entra em vigor em janeiro de 2025: “As empresas precisam despertar para isso. Como fica a análise de redes logísticas, localização de CDs, fábricas e fontes de fornecimentos? As regiões incentivadas devem acabar em 2033.”

O comitê jurídico da ABRALOG está dedicado a orientar os associados nessa transição, que deve provocar uma reconfiguração significativa das redes logísticas nacionais. “Nós precisamos mobilizar o setor, os associados, que isso é uma agenda importante que precisa ser trabalhada já. Estamos atrasados, inclusive”, alertou.

Ecossistema completo de soluções logísticas

A ABRALOG opera como um ecossistema que reúne mais de 150 empresas associadas, incluindo tanto fornecedores de soluções (transportadoras, operadores logísticos, empresas de tecnologia e automação) quanto embarcadores (como Carrefour, GPA, Lojas Renner, Casas Bahia, Leroy Merlin, IP e Diageo).

Além dos novos comitês, a associação já mantém nove grupos temáticos ativos. Entre eles está o comitê de Inteligência Artificial, em parceria com a Sampol, escola de negócios referência mundial em IA; o Real Estate, focado no potencial de 100 milhões de m² para armazéns classe A no Brasil (hoje são 25 milhões); o ESG, conselho estratégico com 26 executivos de alto nível que se reúnem mensalmente; o Jurídico, atualmente concentrado nos impactos da reforma tributária; além dos comitês de Logística Farmacêutica, Cadeia do Frio, Intralogística, Inovação, E-commerce e Gestão de Pessoas.

Escassez de mão de obra qualificada

Outro desafio destacado por Moreira é a escassez de profissionais qualificados: “Falta talento, faltam profissionais, não só no nível operacional – motoristas, operadores de empilhadeira – mas também na parte de liderança, gerência, diretoria.”

A ABRALOG mantém um comitê de gestão de pessoas que trabalha para valorizar a profissão logística e desenvolver estratégias de retenção de talentos. “O Brasil não tem uma tradição muito grande para formação de profissionais de logística, não tem uma universidade de logística. Nós precisamos chacoalhar a parte educacional e tornar a logística um curso”, defendeu.

Para ampliar sua representatividade, a associação está criando núcleos regionais no Nordeste, Centro-Oeste e Sul. “A gente precisa nacionalizar mais a entidade”, destacou Moreira.