A convergência entre Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT) — o chamado AIoT — está redefinindo a forma como os armazéns operam. 

Em vez de ambientes estáticos, com fluxos rígidos e decisões humanas demoradas, os centros de distribuição tornam-se sistemas vivos, capazes de aprender, adaptar-se e otimizar cada movimento. 

Para entender como essa transformação vem acontecendo na prática, o Modal Connection conversou com Thiago Holanda, consultor da LIBIAO Robotics na América Latina.

Holanda compartilhou dados, cases e uma visão detalhada sobre essa revolução tecnológica. Continue lendo e entenda mais!

Armazéns adaptativos: a inteligência distribuída do AIoT

Segundo Holanda, “a convergência AI + IoT transforma armazéns estáticos em sistemas adaptativos”. 

Ele explica que os sensores instalados em equipamentos e estruturas capturam dados contínuos — como posição, temperatura, vibração e ocupação de áreas —, enquanto algoritmos inteligentes analisam essas informações em tempo real. 

O objetivo é otimizar rotas de robôs móveis (AMRs), equilibrar a carga de trabalho entre setores, ajustar zonas de picking e priorizar ordens conforme custo, nível de serviço (SLA) e urgência.

O resultado direto é perceptível. “Reduzimos tempos de movimentação, diminuímos o desperdício de mão de obra em tarefas repetitivas e passamos a tomar decisões prescritivas, não apenas descritivas”, explica o consultor. 

Para Holanda, “isso se traduz em aumento de produtividade e redução global de custos operacionais.”

Além disso, a capacidade de aprendizado contínuo torna a operação mais responsiva. O armazém deixa de ser apenas um espaço de armazenagem e se torna um organismo inteligente, em que cada máquina, sensor e operador atua de forma sincronizada com base em dados precisos e atualizados.

Telemetria e rastreamento em tempo real

Um dos pilares do AIoT é a telemetria inteligente, que viabiliza o rastreamento em tempo real de mercadorias, pallets, veículos e equipamentos. 

De acordo com Holanda, “sensores BLE, UWB, RFID passivo ou ativo, beacons e câmeras com visão computacional fornecem informações sobre localização e atividades.”

Esses dados são integrados a sistemas como Warehouse Management System (WMS), Warehouse Execution System (WES) e Robot Control System (RCS), formando um ecossistema digital interconectado. 

A precisão é tamanha que é possível saber a posição exata de cada item, além de monitorar sua movimentação e condição.

Mais do que visibilidade, o AIoT oferece ação imediata: quando uma mercadoria fica parada além do esperado, por exemplo, o sistema detecta o bloqueio de fluxo e aciona automaticamente um workflow, seja para redirecionar um robô, abrir um ticket de manutenção ou ajustar a prioridade da operação. 

“Essa é a diferença entre um armazém conectado e um realmente inteligente”, pontua Holanda.

Previsão de demandas e gestão de estoques inteligentes

O impacto do AIoT também se estende à gestão de estoques e ao planejamento preditivo. A combinação de sensores e IA permite antecipar rupturas e desperdícios, otimizando o uso do espaço e do tempo.

Holanda destaca três avanços-chave nessa frente:

  • Modelos de previsão com telemetria: cruzam consumo, ciclos de picking e tempo médio de atendimento com variáveis externas, como promoções e sazonalidade;
  • Detecção precoce de anomalias: utiliza streaming analytics que identifica desvios de consumo e falhas em equipamentos capazes de gerar gargalos;
  • Sistemas prescritivos: reordenam o inventário automaticamente e sugerem transferências internas para evitar rupturas.

Outro diferencial é o conceito de reservas dinâmicas, em que o sistema realoca automaticamente o estoque físico próximo a SKUs de alta rotatividade, considerando previsões sazonais. 

“É como se o armazém se reorganizasse sozinho, antecipando o comportamento da demanda”, explica Holanda. 

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Automação inteligente e eliminação de tarefas repetitivas

A automação inteligente é o motor visível dessa transformação. Ela substitui etapas manuais por fluxos orquestrados e coordenados digitalmente. 

Holanda resume: “AMRs, ASRS e AGVs cuidam do transporte e armazenamento; RPA e IA assumem tarefas administrativas; e a visão computacional faz inspeção e controle de qualidade”.

Tudo é gerenciado por sistemas como o WES e o RCS, que coordenam robôs e operadores para minimizar esperas e deslocamentos. 

O ganho é direto: maior eficiência por hora trabalhada e menor impacto sobre o indicador de desempenho global (OEE).

“Quando combinamos regras de negócio com aprendizado por reforço ou otimização matemática, conseguimos adaptar rotas e prioridades conforme o turno evolui”, explica o consultor. 

Além disso, esse tipo de automação também tem reflexos diretos na segurança e ergonomia. Afinal, as tarefas repetitivas e fisicamente desgastantes são delegadas a robôs, enquanto os operadores humanos passam a atuar em funções de supervisão, análise e tomada de decisão.

Retorno rápido e casos de sucesso

Com retorno sobre investimento (ROI) cada vez mais mensurável e implementações ágeis, as soluções baseadas em AIoT estão se tornando prioridade nas estratégias de automação logística. 

Segundo Holanda, empresas de e-commerce têm adotado as tecnologias para lidar com períodos de pico, como Black Friday e Natal.

“Elas usam soluções para o chamado peak shaving, quando a demanda explode e o sistema precisa absorver o impacto sem perder desempenho”, explica. “Nesses casos, há redução significativa do lead time e eliminação da necessidade de contratar e treinar grandes equipes temporárias”, complementa.

Esse tipo de flexibilidade operacional mostra como o AIoT vai além da automação tradicional. Trata-se de uma infraestrutura cognitiva que aprende com o comportamento do armazém e dos clientes, ajustando-se em tempo real para maximizar o desempenho.

O futuro da intralogística: conectada, preditiva e autônoma

O AIoT está consolidando uma nova era na automação logística: uma era em que os armazéns não apenas reagem, mas antecipam e prescrevem. 

O conceito de “armazém inteligente” ganha um novo significado: um ecossistema em que telemetria, aprendizado de máquina e automação colaborativa convergem para criar operações autossustentáveis e altamente eficientes.

Para Holanda, o caminho é irreversível: “A próxima fronteira é a autonomia plena. Teremos armazéns que se autogerenciam com base em dados de contexto, regras de negócio e aprendizado contínuo.”

Enquanto isso, empresas que investem hoje em AIoT, gestão de estoques inteligentes e eficiência operacional já colhem resultados concretos: redução de erros, decisões mais rápidas e um uso muito mais estratégico dos recursos humanos e tecnológicos.