As tensões geopolíticas ao redor do mundo estão redesenhando o mapa da logística internacional, com impactos diretos sobre as rotas marítimas e as operações portuárias.

Conflitos armados, sanções econômicas, mudanças climáticas e novos acordos comerciais forçam empresas e governos a reavaliar continuamente suas estratégias logísticas.

Nesta entrevista, Jackson Campos, especialista em Comércio Exterior e diretor de relações institucionais da AGL Cargo, avalia como eventos em regiões estratégicas afetam prazos, custos e disponibilidade de produtos em escala global. 

Ele também destaca as principais medidas de mitigação adotadas, os efeitos econômicos já registrados e as tendências que devem moldar o futuro da logística marítima. Veja mais a seguir!

Conflitos internacionais e a alteração nas rotas marítimas estratégicas

Na opinião de Jackson Campos, os eventos geopolíticos têm impacto direto sobre as rotas marítimas e as operações portuárias.

“Conflitos internacionais, sanções econômicas, mudanças climáticas e até novos acordos comerciais forçam uma constante reconfiguração da logística global”, afirma o entrevistado.

Segundo ele, quando há instabilidade em regiões estratégicas (como o Mar Vermelho, o Estreito de Ormuz ou o Canal de Suez), o transporte marítimo precisa ser redirecionado para rotas mais longas, caras e, muitas vezes, congestionadas. 

“Isso afeta desde o custo do frete até os prazos de entrega e a disponibilidade de produtos no mercado”, observa.

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Medidas para mitigar os impactos de eventos geopolíticos nas operações portuárias

Conforme o especialista em comércio internacional, conflitos armados, por exemplo, alteram completamente o mapa logístico. 

Ele cita o caso recente sobre o desvio das rotas no Mar Vermelho após ataques a navios cargueiros, o que aumentou o tempo de viagem em até 10 dias e elevou os custos logísticos em escala global.

“Em resposta a esses riscos, as empresas têm adotado medidas como rotas alternativas, estoques em zonas seguras, reforço em seguros e investimento em tecnologias de rastreamento e visibilidade de carga”.

Mudanças climáticas e novas demandas comerciais

No caso das mudanças climáticas, Jackson Campos explica que os portos precisam se preparar para eventos extremos e elevação do nível do mar.

“Isso exige investimentos pesados em infraestrutura resiliente, sistemas de drenagem, eletrificação de operações e o uso de energias renováveis”, aconselha.

“Ao mesmo tempo, a pressão por sustentabilidade também traz novas demandas comerciais (como o aumento do transporte de veículos elétricos, baterias e produtos com pegada de carbono reduzida) o que demanda modernização das instalações portuárias”, acrescenta.

Estudos sobre impacto econômico de eventos geopolíticos no setor portuário

Campos afirma que existem, sim, estudos que demonstram o impacto econômico dos eventos geopolíticos no setor portuário. Ele traz alguns exemplos:

“A paralisação do Canal de Suez, em 2021, gerou perdas estimadas em US$ 9 bilhões por dia. Já o bloqueio dos portos ucranianos afetou a exportação de grãos e elevou o preço global dos alimentos”, detalha.

“E os efeitos da guerra comercial entre Estados Unidos e China ainda são sentidos em reconfigurações de rotas e realocação de investimentos produtivos”, completa. 

Tendências futuras devido a mudanças geopolíticas

O entrevistado acredita que a tendência, olhando para o futuro, é de regionalização das cadeias produtivas, com foco em segurança e resiliência.

“Os países e empresas estão diversificando as suas rotas e parceiros logísticos, priorizando acordos bilaterais, investimentos em infraestrutura e soluções sustentáveis”, vê.

“A diplomacia logística ganha força nesse cenário, pois a previsibilidade no fluxo de cargas deixou de ser apenas uma vantagem competitiva, passou a ser uma questão estratégica de soberania e segurança econômica”, conclui.

Diante de um cenário global instável, adaptar rotas, investir em resiliência e fortalecer a diplomacia logística são caminhos essenciais para garantir segurança, previsibilidade e eficiência no transporte marítimo internacional.

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