O turismo ferroviário no Brasil vive um momento de redescoberta. Durante o painel “O papel das empresas ferroviárias na promoção do turismo sob trilhos”, realizado na NT Expo, especialistas e operadores destacaram como os trens turísticos têm se consolidado como uma alternativa sustentável e culturalmente rica para o desenvolvimento regional.

Participaram do debate Rafael Pandolfi, da CPTM; Adonai Aires de Arruda Filho, da Serra Verde Express e presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais (ABOTTC); Sávio Neves, presidente do Trem do Corcovado; e Lucas Evaristo, docente e consultor do Brasil Ferroviário, que moderou a conversa.

Revitalização de trechos e superação de desafios

Rafael Pandolfi compartilhou o case do Expresso Turístico da CPTM, que opera em malha compartilhada com trens metropolitanos e de carga. “Conseguimos injetar um trem turístico em uma operação complexa, sem causar impacto nos demais serviços. Isso exige uma equipe altamente capacitada e planejamento rigoroso”, afirmou.

Adonai Arruda reforçou os desafios enfrentados pelas operadoras: “A política ferroviária brasileira sempre priorizou o transporte de carga. Para operar um trem turístico, é preciso negociar com concessionárias, garantir infraestrutura, estações, material rodante e ainda competir com outros destinos turísticos.

Experiências que vão além do passeio: impactos econômicos

Mais do que transporte, os trens turísticos oferecem experiências completas. Sávio Neves destacou o Trem do Corcovado, que opera desde 1884 e foi responsável por levar os materiais para a construção do Cristo Redentor. “O trem turístico é o trem da alma. Ele carrega cultura, história e gera empregos em torno de sua operação”, disse.

Adonai complementou com exemplos de parcerias que transformam o passeio em vivência: “Criamos o Beer Train com uma cervejaria premiada, temos teatro a bordo e até vagão pet. O trem é só o começo. A partir dele, desenvolvemos dezenas de atividades com impacto direto na economia local”.

Segundo pesquisa realizada em parceria com o Sebrae, cada passageiro de trem turístico gasta em média R$ 600 na região visitada. Com cerca de 5 milhões de turistas por ano, o impacto econômico é bilionário. “Criamos classes econômicas, convênios e produtos temáticos para democratizar o acesso e incluir todos os públicos”, explicou Adonai.

O papel dos governos e o futuro do setor

Os participantes foram unânimes em afirmar que o apoio institucional é essencial. “Governadores e prefeitos que não enxergam o trem turístico como vetor de desenvolvimento estão perdendo uma grande oportunidade. O turismo ferroviário interioriza o turismo e movimenta a economia local”, concluiu Sávio Neves.

O painel encerrou com um convite à ação: investir, apoiar e divulgar os trens turísticos como parte da estratégia nacional de turismo. Com potencial para triplicar o número de passageiros em poucos anos, o setor pede passagem para um futuro mais conectado com a história, a cultura e o desenvolvimento regional.