A logística está passando por uma transformação silenciosa, mas profunda. Se antes o desafio era apenas levar uma carga do ponto A ao ponto B, hoje o grande diferencial está em como integrar tecnologias, pessoas e processos para garantir eficiência e sustentabilidade em toda a cadeia.

O monitoramento multimodal surge como peça-chave dessa evolução, permitindo que diferentes modais de transporte conversem entre si e gerem informações em tempo real.

Mais do que acompanhar trajetórias, trata-se de oferecer visibilidade total e capacidade de resposta imediata, elementos que estão redefinindo a forma como as empresas enxergam e conduzem suas operações logísticas.

Conversamos sobre este assunto com Marcelo Zeferino, Chief Commercial Officer (CCO) da Prestex Logística Emergencial.

Continue a leitura deste artigo e descubra como essa tendência pode transformar também os resultados do seu negócio!

Desafios tecnológicos para obter visibilidade completa da cadeia logística

Na opinião de Marcelo Zeferino, o maior desafio da cadeia logística, atualmente, é o fato da tecnologia, apesar de amplamente difundida, não ser utilizada em todas as pontas. 

“Você precisa de cada vez mais hubs gigantescos de integração para poder receber toda essa informação, administrá-la e entregá-la para o cliente final”, ressalta.

E essa, segundo Zeferino, é uma questão que, sem investimento, não é possível resolver.

“Está aí a importância de você ter um operador logístico com musculatura para isso. Para que possa investir nas integrações corretas, que fazem sentido para cada modelo de segmento”, acrescenta o entrevistado.

Ele, inclusive, traz um exemplo: “Para cada segmento existe uma característica dessa visibilidade. Se você pega uma Anvisa, você precisa disso para a natureza da operação”.

E complementa: “É a satisfação. É o quanto aquilo representa em receber aquela mercadoria. E poder entender tudo isso. Dedicar a tecnologia necessária para cada uma dessas contas. É o grande segredo da coisa, e que necessita de um grande investimento”.

Tecnologias mais eficientes para o monitoramento multimodal

De acordo com Marcelo Zeferino, mais do que a característica e a tecnologia é o entendimento. E o grande problema, na visão do especialista, é que “alguns players querem abraçar tudo”.

“Você quer atender todo mundo da mesma forma, da melhor maneira possível e não vai conseguir”, adianta.

Novamente, ele ilustra: “O próprio WhatsApp pode ser um canal importante. Você não precisa de grandes tecnologias para hoje linkar um rastreamento ao WhatsApp”.

“Já tem outros que você vai precisar fazer uma integração com o sistema do cliente que, muitas vezes, está na Ásia e você vai precisar de tecnologia para isso. Depende muito de como a própria empresa se posiciona no mercado, a quem ela serve, qual tamanho do mercado que ela quer atender”, afirma.

Principais gargalos na transição entre modais que o monitoramento ajuda a resolver

Um dos principais gargalos, segundo Zeferino, é justamente a diferença de tecnologia entre alguns modais.

“Enquanto alguns visam muito o volume e o custo propriamente dito, em outros a agilidade e a flexibilidade é o que conta”, observa, citando a transição de um modal para outro.

“Tem uma mercadoria que está vindo do marítimo e ela vai precisar transbordar para um aéreo para fazer uma entrega doméstica. São modelos muito distintos de operação e se você não tem um domínio amplo da cadeia como um todo, em algum momento você vai ficar no escuro”, prevê.

Dados coletados utilizados para tomada de decisão em tempo real

Na concepção de Zeferino, vivemos hoje em um mundo em que se for preciso tratar dados para dividir com o cliente, algo está acontecendo de errado.

“Na Prestex, não tratamos o dado, principalmente quando falamos de visibilidade, porque a informação em tempo real é o que vai fazer com que o cliente tome a decisão sobre o que precisa se fazer na linha dele, o que ele precisa fazer com o produto dele, com o cliente dele”, explica.

Para Zeferino, o importante é “não furtar o cliente dessa informação”. 

“O dado, ele existe sim, acho que você precisa cada vez mais coletá-lo de forma mais ágil e instantânea, em tempo real, mas tudo isso para que você entregue ao seu cliente final essa visibilidade”, analisa.

Conforme o especialista, não adianta você ter as informações e guardá-las para si.

“Depois disso, você reúne os dados e trabalha uma forma de mitigar os gargalos da operação. Mas a transcrição tem que ser em tempo real”, aconselha.

Tendências tecnológicas que devem impactar o setor nos próximos anos

O CCO da Prestex é categórico ao afirmar que a Inteligência Artificial (IA) é a tendência tecnológica que deve impactar fortemente o setor logístico.

“Hoje a IA e os agentes de inteligência artificial vêm para ajudar, para que possamos tomar a decisão cada vez mais rápido e substituir tarefas que antes fazíamos de forma manual para formas semiautomáticas ou até mesmo automáticas”, comenta.

E usar a IA, segundo Zeferino, não é nem questão de opção.

“É como e quando você vai usar. Se você não utilizar, e se você entender que isso não afeta a sua operação, você vai ficar fora do mercado”, contempla.

Obstáculos para a adoção massiva de sistemas integrados no Brasil

Para Zeferino, o que mais dificulta a adoção massiva de sistemas integrados no setor logístico brasileiro é a burocracia.

“Nós tivemos uma linha de ferrovia que foi impedida de ser construída por embargo federal devido a um possível dano ambiental”, exemplifica.

“Não vem ao caso se isso é válido ou não. O ponto é que são uma série de acordos fiscais, documentais, ambientais, operacionais e tecnológicos que precisam ser feitos para que estados, cidades e modais conversem e possam adotar o mesmo padrão de coleta de dados e de distribuição”, comenta.

E isso, conforme Zeferino, é muito difícil de acontecer.

“Quando você pega um estado que faz fronteira com outro e você tem uma fiscalização, existe diferença de alíquota, de documentação necessária e hoje um empresário e/ou transportador precisa dominar isso para poder transitar de forma ágil”, cita.

“Imagine isso a nível Brasil. Estamos falando de um país com dimensões continentais. É muito difícil, é muito complexo”, continua.

“Eu acho que o grande ponto é esse, enquanto a gente não tiver uma discussão única de como transacionar tudo isso, pode ficar cada vez mais difícil que tudo aconteça de uma forma fluida”, finaliza.

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