A logística portuária está passando por uma transformação, impulsionada pela inovação nos portos e pela busca por soluções que unam eficiência operacional e sustentabilidade.
À medida que o comércio global se torna mais dinâmico e exigente, cresce a necessidade de uma infraestrutura portuária moderna, capaz de integrar automação, tecnologias digitais e práticas de descarbonização para reduzir impactos ambientais e aumentar a competitividade.
Os portos inteligentes representam, neste cenário, o próximo passo da jornada: sistemas interconectados que otimizam fluxos logísticos, melhoram a gestão portuária e contribuem para uma economia marítima mais verde e resiliente.
Essas mudanças não apenas redefinem o papel estratégico dos portos, mas também sinalizam um novo paradigma na forma como o Brasil e o mundo se preparam para o futuro do transporte e da logística.
Quer entender como essa revolução está acontecendo na prática? Acompanhe, a seguir, a entrevista com Mario Veraldo, CEO e co-fundador da MTM Logix Inc!
Os principais avanços tecnológicos que estão transformando a logística portuária no Brasil
Na opinião de Mario Veraldo, a transformação tecnológica dos portos brasileiros já deixou de ser uma promessa e se tornou uma “realidade em marcha”.
“Nos últimos anos, a combinação de automação, conectividade e análise de dados começou a redesenhar a forma como as cargas chegam, são movimentadas e saem dos terminais”, analisa o entrevistado.
Ele traz, inclusive, um exemplo prático do que já acontece no Porto de Santos:
“A operação portuária está sendo impulsionada por redes 5G privadas, permitindo que guindastes e caminhões automatizados troquem informações em tempo real. Isso reduz o tempo de espera, aumenta a segurança e torna o processo mais previsível”, conta.
Outro avanço apresentado por Veraldo é o uso da Inteligência Artificial para planejar a movimentação dos contêineres.
“Em portos como Itapoá, o sistema analisa fluxos e sugere a melhor forma de organizar o pátio. Esta é uma tarefa que antes dependia da experiência humana e de muita tentativa e erro”, observa.
O especialista afirma que por trás dessas inovações, o que realmente muda é a mentalidade.
“A visão do porto deixa de ser apenas um ponto físico de embarque e desembarque e passa a funcionar como um sistema inteligente, capaz de se adaptar a volumes maiores e a uma economia global mais exigente”, ressalta.

A sustentabilidade incorporada às estratégias de modernização dos portos brasileiros
A sustentabilidade no setor portuário deixou de ser um tema de relações públicas para se tornar uma questão de competitividade.
“Navios e operadores internacionais já priorizam portos que oferecem soluções de menor impacto ambiental e o Brasil está começando a responder a essa demanda”, comemora Veraldo.
Ele traz o Complexo do Pecém, no Ceará, como símbolo dessa nova era brasileira.
“Estão sendo implantadas iniciativas de hidrogênio verde e parcerias com portos da Europa, como Roterdã e Rostock, para criar corredores marítimos sustentáveis. Isso significa que, em poucos anos, embarcações movidas por combustíveis limpos poderão fazer escala em território brasileiro”, comenta.
De acordo com Mario Veraldo, programas públicos também estão estimulando o uso de energia elétrica em vez de diesel nos guindastes e a instalação de pontos de energia para que navios desliguem os motores durante o tempo atracado.
Essa ação pode até parecer simples, mas reduz drasticamente as emissões de carbono e o ruído nas cidades portuárias.
“Esses esforços mostram que a transição verde não é apenas uma pauta ambiental, mas também uma estratégia econômica: quem se adapta primeiro conquista investidores, novas rotas e mais eficiência operacional”.
Desafios para que a inovação se consolide como diferencial competitivo
Para o co-fundador da MTM Logix Inc., apesar dos avanços, ainda há um longo caminho pela frente. O maior desafio, segundo Veraldo, talvez seja conectar o digital ao físico.
“Não adianta ter portos modernos se os acessos rodoviários e ferroviários continuam congestionados. Muitos terminais ainda sofrem com gargalos logísticos que reduzem o impacto das tecnologias implementadas”, salienta.
Outro obstáculo é a integração entre os diversos atores do sistema portuário: armadores, agentes, órgãos públicos, despachantes e operadores.
“O governo vem tentando resolver isso com o Port Community System, uma plataforma que reúne todas as informações e documentos em um só lugar. Mas para que funcione plenamente, todos precisam aderir”, orienta.
E há também a questão da cultura. “Adotar tecnologia exige treinamento, mudança de processos e disposição para inovar em um ambiente historicamente avesso a riscos. Ainda é comum ver decisões sendo tomadas ‘como sempre foram’, mesmo quando há dados e ferramentas disponíveis para fazê-las melhor”, complementa.
Iniciativas e projetos que apontam para o futuro da logística portuária no Brasil
Mario Veraldo afirma que o “futuro dos portos brasileiros está sendo escrito agora” e ele será digital, verde e conectado.
“Projetos como o 5G no Porto de Santos, a automação de pátios em Itapoá e a expansão de ferrovias e acessos multimodais no Arco Norte e no Porto de Santos mostram um país que começa a pensar o porto como parte de um ecossistema logístico integrado”, destaca.
Outro marco importante é o avanço do Portal Único de Comércio Exterior (DUIMP), que promete simplificar e digitalizar a burocracia nas importações e exportações.
“A ideia é que, em vez de dezenas de formulários e autorizações espalhadas, o exportador ou importador resolva tudo em uma única plataforma”.
No campo da sustentabilidade, corredores verdes estão sendo planejados para ligar o Brasil à Europa e à Ásia, posicionando o país como um hub global de combustíveis renováveis.
“Essas iniciativas mostram que a modernização portuária não é mais um projeto isolado, mas o ponto de encontro entre tecnologia, sustentabilidade e estratégia nacional”.
“Os portos, antes vistos apenas como ‘portões de entrada e saída’, estão se tornando centros de inteligência logística capazes de definir o rumo da competitividade brasileira nos próximos anos”, finaliza Mario Veraldo.
O futuro da logística, de fato, começa na costa e o Brasil tem a oportunidade de ser protagonista dessa nova era.
Tags