Em um mundo cada vez mais conectado, um país de dimensões continentais como o Brasil apresenta muitas dificuldades para o setor industrial e a cadeia de suprimentos. Enquanto a comunidade internacional define como padrão o investimento de 5% a 7% do PIB do país em infraestrutura, o Brasil aplica menos de 2% do montante em melhorar sua malha rodoviária, ferroviária e portuária.
O número foi citado pelo diretor de Distribuição e Transporte do Grupo Carrefour, Diclei Remorini, durante o painel “Os modais, a cadeia de suprimentos e a conectividade em um país de proporções continentais”, que aconteceu na 23ª edição do Futurecom, feira de telecomunicação, conectividade e tecnologia em São Paulo. “O famoso ‘custo Brasil’ inclui o custo logístico que causa perda de produtividade. Aqui, o crescimento do PIB é inversamente proporcional ao investimento em infraestrutura rodoviária, ferroviária, de portos e de cabotagem. Se essa balança fosse equilibrada, o setor privado brasileiro poderia aumentar em 20% o volume de produtos transportados com sua estrutura atual, sem gerar nenhuma emissão de CO2 a mais”, explicou o executivo.
Com mediação do presidente da Abralog, Pedro Moreira, especialistas discutiram a rastreabilidade de cargas, a navegação de cabotagem e outros desafios do setor em 2023. Fernanda Levi, gerente executiva da Maersk, explicou a mudança de cultura nas empresas que passaram a priorizar a logística inteligente. “O consumidor final não tem mais tolerância para esperar que o produto chegue na prateleira, porque ele terá acesso a um e-commerce cada vez mais ágil. Antes da pandemia, a logística era considerada um custo que as empresas buscavam reduzir. Hoje, o investimento em transporte, frete e frota é visto como uma estratégia fundamental”, disse a gerente. “Mas já prevemos uma necessária mudança de posicionamento do mercado para soluções completas mesmo antes da pandemia. Desde 2017 mudamos a nossa estratégia de negócios para sermos um integrador logístico, e não apenas um transportador de container. A ideia é implementar soluções que trazem vantagens para toda a cadeia produtiva”, completou Fernanda.
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Telecomunicações se tornaram “infraestrutura das infraestruturas”
Já Daniela Martins, diretora de Comunicação da Conexis, falou do papel das telecomunicações na eficiência dos demais setores, especialmente com a implementação do 5G no país. “Se o setor de infraestrutura traz produtividade e riqueza ao país, é o setor de telecomunicações que pode potencializar isso, e fazer com que o Brasil se torne um país cada vez mais online. Agora em agosto chegamos a 15 milhões de acessos com 5G no país apenas 14 meses após a chegada da tecnologia, número que o 4G levou mais de dois anos para atingir, por exemplo”, explicou a diretora.
Durante o painel “Os modais, a cadeia de suprimentos e a conectividade em um país de proporções continentais” no Futurecom, a executiva da Conexis ainda mencionou a importância de investimento público para que a conectividade atinja as áreas mais remotas. “Atualmente, o serviço de telecomunicações é a infraestrutura de outras infraestruturas, ou seja, é fundamental para verticais de mercado. Sem falar que se trata de um setor com investimento de R$ 1 trilhão desde a privatização, na década de 90, o que representa cerca de R$ 40 bilhões ao ano. É claro que o 5G gera interesse do público em geral pelas inovações que podem ocorrer no nosso dia a dia, mas o maior impacto sem dúvidas será no B2B, e como estar conectado se tornou um direito fundamental do cidadão, o progresso demanda união dos setores público e privado”, completou Daniela.