O tema do Corredor Bioceânico voltou a ganhar destaque em 2025 devido a um esforço conjunto entre os governos do Brasil e da China para avançar em projetos de infraestrutura estratégica. Uma comitiva chinesa esteve no Brasil para discutir e visitar as obras que compõem o Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com foco especial na integração da malha ferroviária.

O principal objetivo é viabilizar uma rota alternativa para o Oceano Pacífico, o que facilitaria o escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste brasileiro para os importantes mercados asiáticos.

Essa nova fase de discussões reforça a importância geopolítica e econômica do corredor. A colaboração com a China sublinha a relevância do projeto logístico para o comércio internacional, criando um atalho significativo que pode reduzir custos e tempo de transporte.

A visita da delegação chinesa a obras como a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) e o acompanhamento de outros projetos estratégicos indicam um interesse renovado e a concretização de um plano que, há anos, é considerado crucial para a logística e a competitividade do Brasil e de outros países da América Latina.

Entrevistamos Jorge de Mendonça, Presidente da Associação Intermodal da América do Sul (AIMAS), que nos falou mais sobre o tema. Leia abaixo!

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O que é o corredor bioceânico?

Conhecido como “corredor bioceânico”, o projeto de ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico é um dos grandes objetivos logísticos da América do Sul.

Com a ideia de conectar o porto de Santos, na costa brasileira, até o porto de Arica, na costa chilena, o corredor de infraestrutura rodoviária deverá englobar cerca de 4400 km de extensão, passando pela Argentina, Paraguai e Bolívia.

A iniciativa pretende fornecer uma maneira mais prática para o transporte e escoamento de mercadorias entre o continente, beneficiando também outras áreas, como o turismo.

Jorge de Mendonça: “Como título, significa muitas coisas para pessoas diferentes em lugares diferentes. 

Para o que nos interessa na América do Sul, resulta sobretudo numa mera ponte de terra que não se preocupa com a economia do interior dos territórios mas, para alguns, ‘uma ponte de terra utópica’ em que um navio descarrega de um lado e o outra carga na outra ponta, enquanto para outros é um trabalho técnico que serve apenas para extrair mercadorias de baixo valor de dentro do continente para os oceanos.

Para nós que olhamos para o desenvolvimento econômico de cada canto do território, a logística e a mobilidade devem ser duas ofertas que possibilitam o intercâmbio local, nacional, regional e, claro, também transoceânico.

A diferença substancial é que essas duas primeiras visões não são colocadas no benefício capitalista em todos os cantos, enquanto a terceira visão sim, e isso vai gerar muito mais exportações de valor muito maior para muito mais investidores que vão gerar muito mais empregos. Além disso, os custos de exportação tendem a cair.

No caso do corredor bioceânico de Capricórnio, tomado como uma faixa econômica territorial e não como uma mera rodovia ou ferrovia, o desafio é finalmente ligar cada esquina a qualquer outra entre Paranaguá / Santos – Antofagasta / Arica, onde cada ponto, além para ter mais opções de conexão com outros pontos do interior, todos terão opções de comércio transoceânico para o leste e oeste.”

mapa do corredor bioceanico

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Quais são os benefícios da integração bioceânica para os países do Mercosul?

Jorge de Mendonça: “A pergunta deveria ser ao contrário: como nos prejudicou essa estranha filosofia que nos invadiu desde os anos 1960, quando multidões de conselheiros e consultores questionavam a necessidade de conectar nossos territórios?

A resposta concreta é que deixará de ser uma aventura ir de uma zona a outra, sair por um porto ou outro ou combinar com um caminho de ferro ou pelo rio.

Além disso, a agilidade em circular por estradas em bom estado e com cada vez menos dificuldades de condução vai também ajudar a reduzir a Pegada de Carbono, muito importante face à ameaça de barreiras não tarifárias na Europa aos produtos do resto do mundo pelas sanções e restrições conforme a redução ou não das emissões.”

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Quais são as oportunidades de comércio exterior com o corredor bioceânico?

Jorge de Mendonça: “Ampliando as oportunidades de embarque por um ou outro oceano e por diversos portos, o território interior terá mais alternativas diante das constantes mudanças de frequência, oferta e preço de frete impostas pelo universo das frotas marítimas.”

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Por que vivemos em um cenário de estagnação e quais são as previsões para o corredor bioceânico no continente?

Jorge de Mendonça: “Sem logística e mobilidade não é possível que a economia se desenvolva. Maior conectividade para a logística e mobilidade não é uma garantia de desenvolvimento, mas sem isso nada funciona.

O corredor Capricórnio, assim como tantos outros, surgiu do primeiro acordo em 2000 entre os então presidentes do Brasil e da Argentina, Cardoso e De La Rúa, sobre o desenvolvimento rodoviário no Mercosul.

representação de como serão as estradas do corredor bioceânico

Mas, se tomarmos apenas o resultado, a conjugação dessa iniciativa em um gigantesco (e tecnocrata) conglomerado burocrático de consultorias e mais consultorias para projetos que pareciam cada vez mais fantasiosos (apesar de não o serem), deram origem a esta autoestrada Leste-Oeste que ainda precisa ser terminada 20 anos depois de definidas pelos países através de seus presidentes.

Com a implementação do corredor continuamente conectado, não há potencialidades pela frente, mas sim oportunidades que finalmente poderão desenvolver a economia de nossos territórios.

A conclusão da rodovia aumentará a febre bioceânica que, finalmente, terá esmagado o vírus que nos manteve doentes devido à desconexão por seis décadas.”

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