As novas tarifas de Trump na logística afetam diretamente setores industriais e exportadores brasileiros, pressionam custos logísticos e abrem espaço para instabilidade cambial e incertezas nos fluxos internacionais de produção. Saiba mais!

Com a aplicação de sobretaxas de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, o governo dos Estados Unidos altera drasticamente o cenário de comércio bilateral com o Brasil.

Setores-chave da indústria nacional, como aeronáutico, alimentício, metalúrgico e de bens de capital, passam a enfrentar obstáculos que vão além da competitividade: incluem gargalos logísticos, aumento de custos e impactos no consumo global.

Neste conteúdo, reunimos os principais efeitos econômicos e logísticos dessas medidas, os riscos de retaliação e as estratégias que empresas brasileiras podem adotar para se adaptar a esse novo ambiente comercial. Vale acompanhar de perto, pois os próximos meses exigirão decisões técnicas, diplomáticas e operacionais que podem influenciar toda a cadeia de fornecimento e produtiva nacional.

Qual o impacto das tarifas de Trump no Brasil?

A imposição da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada por Donald Trump já causa turbulência no cenário econômico. O real teve uma desvalorização de quase 3%, enquanto o índice Bovespa apresentou quedas consecutivas após o anúncio. Esse movimento afeta diretamente o custo de produção no Brasil, pressionando a importação de insumos e reduzindo o poder de compra interno.

Para a indústria brasileira, o impacto vai além do câmbio. Setores com alta exposição ao mercado americano — como autopeças, transporte aéreo, carne bovina, suco de laranja e café — enfrentam perda imediata de competitividade. Produtos que antes ocupavam posição estratégica nas exportações agora se tornam mais caros e menos atraentes para os compradores dos EUA. 

Com isso, há aumento nos custos logísticos e operacionais, retração nas margens de lucro e queda nas exportações de alto valor agregado. Em um cenário já pressionado por custos internos elevados, essa barreira comercial compromete o desempenho da indústria nacional em 2025.

Qual o impacto das tarifas de Trump na logística?

O mercado norte-americano é o segundo principal destino dos produtos brasileiros, especialmente bens industriais de alto valor agregado. A participação dos EUA nas exportações brasileiras é significativa: chega a 63% no caso de aeronaves, 70% para produtos semifaturados de ferro e aço, 60% em motores, máquinas e geradores, e 58% em materiais de construção. Já em produtos de madeira, a fatia americana ultrapassa 40%.

A perda de acesso competitivo a esse mercado impõe um desafio imediato: encontrar novos destinos e adaptar rotas logísticas. Essa reorganização não é simples. Requer replanejamento de embarques, renegociação de contratos logísticos e realocação de volumes em portos e malhas de transporte já sobrecarregadas. Produtos como suco de laranja, carne e madeira, por exemplo, têm nos EUA um destino consolidado.

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Quais são os setores mais prejudicados pelo tarifaço dos EUA?

As tarifas anunciadas por Donald Trump impactam diretamente setores industriais que possuem alta integração com o mercado americano. Entre janeiro e maio, 79% das exportações brasileiras para os EUA foram compostas por bens industriais, com destaque para aeronaves, combustíveis, alimentos processados, produtos químicos e máquinas, segundo dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil). Esses setores, em especial os de maior valor agregado, são os mais vulneráveis a variações tarifárias.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alerta que os insumos produtivos — como aço, alumínio, celulose, ferro-gusa e equipamentos industriais — respondem por 61,4% das exportações brasileiras e devem sofrer perdas relevantes, tanto pelo aumento direto das tarifas quanto pela perda de competitividade frente a países com acordos preferenciais com os EUA.

No caso da Embraer, a exposição é significativa: 60% de suas vendas totais têm como destino os Estados Unidos. O BTG Pactual estima que uma tarifa de 10% já resultaria em impacto de US$ 78 milhões sobre os custos da empresa. 

Outros setores com forte crescimento em 2024, como carne bovina (+196%), suco de laranja (+96,2%) e café (+42,1%), também entram na zona de risco. Embora tenham mantido competitividade até aqui, parte desse desempenho se deveu a fatores conjunturais, como quebra de safra nos EUA e aumento da demanda americana. A manutenção de altos volumes de exportação depende de margens comerciais que agora estão ameaçadas.

gráfico sobre aumento de insumos após tarifas de trump na logística

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Possíveis soluções das tarifas de Trump na logística para as empresas brasileiras

A tarifa de 50% imposta pelos EUA entra em vigor em 1º de agosto e se soma a outras já aplicadas desde abril, como as que atingem o aço e o alumínio. Diante desse novo cenário, empresas brasileiras precisam reagir com estratégia para reduzir prejuízos e manter a competitividade.

Diversificação de mercados e estratégias de expansão

Buscar novos destinos para os produtos brasileiros passa a ser uma prioridade. A concentração das exportações nos EUA, especialmente em setores como aviação, café, carne e suco de laranja, torna o país vulnerável a mudanças abruptas como o tarifaço de Trump. 

Ampliar acordos comerciais com países da União Europeia, Ásia e Oriente Médio pode ajudar a diluir riscos e abrir espaço para crescimento. Mercados emergentes também são alternativa para absorver parte do volume antes destinado aos EUA.

Otimização logística e eficiência operacional

A reorganização das rotas logísticas de exportação impõe um desafio logístico relevante, mas também representa uma oportunidade para modernizar processos, reduzir desperdícios e integrar operações. 

Investir em malhas logísticas mais flexíveis, avaliar novos portos, renegociar contratos de frete e adotar tecnologias de rastreamento e previsão de demanda são caminhos possíveis. A eficiência interna pode compensar parte da perda de margem causada pelas tarifas.

Inovação em produtos e diferenciação

Investir em valor agregado — seja por meio de certificações, sustentabilidade, qualidade sensorial ou inovação tecnológica — pode ajudar a justificar preços mais altos e reduzir a sensibilidade do consumidor às tarifas. Esse caminho é especialmente relevante para setores como alimentos processados, cosméticos, eletroeletrônicos e aviação, nos quais a diferenciação é um fator-chave de competitividade global.

porto de conteineres cheio após as tarifas de trump na logística

Atuação diplomática e institucional do setor privado

A resposta ao tarifaço de 50% imposto pelos EUA também passa pela articulação política e institucional. Em nota conjunta, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, defenderam que o Brasil reaja com diálogo nos campos diplomático e comercial, evitando o agravamento da crise.

Além da posição do Congresso, que já citou a Lei de Reciprocidade Econômica como uma possível ferramenta de retaliação, entidades e associações setoriais seguem pressionando por negociações bilaterais. O setor privado tem papel essencial nesse processo, atuando junto ao governo federal para manter canais diplomáticos abertos e buscar saídas que preservem o fluxo comercial com os EUA, um dos principais parceiros econômicos do Brasil.

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Quais são os riscos do Brasil retaliar o tarifaço de Trump?

Com a regulamentação da Lei da Reciprocidade, o governo brasileiro passou a ter respaldo jurídico para adotar medidas proporcionais contra ações unilaterais que prejudiquem a competitividade nacional. A nova tarifa de 50% anunciada por Donald Trump se enquadra nesse escopo. No entanto, apesar da autorização formal para reagir, o caminho da retaliação é visto com cautela por lideranças industriais e políticas.

Durante reunião com ministros, representantes da indústria — incluindo o presidente da CNI, Ricardo Alban — pediram que o governo não tome medidas retaliatórias neste momento. Para o setor, uma guerra comercial com os Estados Unidos pode trazer mais prejuízos do que soluções. A recomendação é de que o Brasil atue com objetividade, pragmatismo e preserve o caráter técnico do debate, evitando que disputas políticas contaminem a relação bilateral. As informações são da CNN.

O setor produtivo também defende que o governo solicite o adiamento da vigência das tarifas por 90 dias, com o argumento de que não há tempo hábil para uma negociação séria e estruturada até 1º de agosto. Nesse cenário, o foco recai sobre o diálogo diplomático e a busca de alternativas que protejam a indústria nacional sem escalar o conflito.

gráfico de aumentos após as tarifas de trump na logística

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O que esperar das tarifas de Trump na logística e como se preparar

A imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos marca um novo capítulo nas relações comerciais com o Brasil e exige respostas coordenadas e estratégicas. Setores como aeronaves, alimentos processados, insumos industriais e sucos enfrentam riscos reais de perda de mercado, aumento de custos e necessidade de reposicionamento logístico.

Embora o Brasil tenha instrumentos legais para reagir, como a Lei da Reciprocidade, o setor privado defende que o momento pede pragmatismo. O caminho mais produtivo pode estar na articulação diplomática, na diversificação de mercados e na inovação de produtos, em vez de ações retaliatórias que aprofundem a instabilidade.

Nos próximos meses, empresas que forem capazes de antecipar cenários, revisar estratégias logísticas e alinhar suas operações ao novo contexto terão mais chances de proteger suas margens e manter competitividade. Mais do que nunca, planejamento, diálogo institucional e inteligência de mercado serão diferenciais cruciais para atravessar este período com resiliência.

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