O setor de logística vive um momento de transformação em diversas frentes, e a gestão energética é uma delas. Com a expansão do mercado livre de energia no Brasil, centros de distribuição (CDs) passaram a enxergar novas oportunidades para reduzir custos, ampliar a previsibilidade e até fortalecer compromissos de sustentabilidade.
Para entender como esse modelo impacta diretamente a operação logística, entrevistamos Jovanio Santos, engenheiro eletricista, mestre em Mercados de Energia e Regulação e conselheiro da Associação Brasileira de Hidrogênio e Amônia Verdes (ABHAV).
Veja, a seguir, as contribuições que ele nos apresentou sobre o assunto!
Economia que faz diferença
Segundo Santos, o mercado livre de energia se diferencia por ser um ambiente de competição. “O consumidor pode escolher de quem comprar energia, a que preço e sob quais condições, como prazos e volumes”, explica.
Essa flexibilidade gera impacto direto nos custos: “Comparado ao mercado cativo, a simples migração já pode proporcionar uma economia de 20% a 25%, dependendo da localização do centro de distribuição”, afirma o engenheiro.
Em um setor em que a margem operacional é apertada e a eficiência pesa no resultado final, essa redução se torna altamente estratégica.
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Requisitos mínimos para migrar
A adesão ao mercado livre, no entanto, não é automática. “Hoje, o requisito é estar conectado em tensão igual ou superior a 2,3 kV, ou seja, ser um consumidor do Grupo A”, esclarece Santos.
Esse é o primeiro passo para avaliar a viabilidade regulatória e iniciar a transição. Sem atender a esse critério, o CD ainda precisa permanecer no mercado regulado.
Mais do que preço: previsibilidade e flexibilidade
Além da redução de custos, o especialista destaca a previsibilidade como um ganho fundamental.
“No mercado livre, o consumidor sabe qual será o preço e o índice de reajuste antes mesmo de fechar o contrato. Já no mercado cativo, as tarifas são impactadas por múltiplos fatores, muitas vezes sem aviso prévio”, aponta Santos.
Essa previsibilidade garante segurança no planejamento logístico e na negociação com clientes.
Nas palavras de Santos: “Flexibilidade também é chave: a empresa pode ajustar os seus contratos de acordo com sua estratégia e perfil de consumo.”
Energia limpa e compromissos ESG
A possibilidade de contratar energia 100% renovável também é um aspecto muito valorizado pelo mercado contemporâneo.
“No mercado livre, o CD pode garantir que toda a energia consumida venha de fontes limpas, certificadas por instrumentos como o I-REC”, explica Santos.
Esse diferencial reforça metas de descarbonização e se conecta diretamente aos compromissos ESG de operadores logísticos e varejistas.
“Cada megawatt consumido pode ser associado a uma fonte renovável, o que fortalece a reputação da empresa perante investidores, clientes e a sociedade”, completa o conselheiro da ABHAV.
Riscos e cuidados necessários
A migração, contudo, exige cautela. “Existem riscos relacionados à contratação do montante de energia, que pode ou não corresponder ao consumo real. O gestor precisa avaliar seu apetite ao risco e ter clareza dos mecanismos contratuais”, alerta Santos.
Segundo ele, cada negociação envolve múltiplos aspectos técnicos e financeiros. Por isso, entrar no mercado livre sem o devido preparo pode resultar em custos inesperados.
Consultoria especializada: o passo decisivo
Para mitigar riscos, Santos recomenda apoio profissional. “É essencial contar com uma consultoria especializada. Ela vai analisar o perfil de consumo, verificar a viabilidade regulatória, calcular riscos e ajudar a negociar contratos.”
De acordo com o especialista, esse acompanhamento evita erros e garante que a transição traga, de fato, benefícios estratégicos.
Competitividade logística e previsibilidade
Na visão do conselheiro da ABHAV, a previsibilidade dos gastos com energia impacta diretamente a competitividade logística.
“Saber quanto será gasto nos próximos anos ajuda o CD a firmar contratos mais vantajosos com clientes e planejar investimentos em tecnologia e infraestrutura com segurança”, explica Santos.
Em um mercado pressionado por prazos e custos de operação, esse controle financeiro se traduz em diferencial competitivo.
CDs multiclientes e multissites: agregação de carga
Os benefícios não se restringem a grandes players individuais. “Centros de distribuição multiclientes ou multissites também podem participar, unindo suas cargas para atuar como agregadores de carga”, destaca Santos.
Essa estratégia abre espaço para negociações ainda mais vantajosas, já que o volume consolidado aumenta o poder de barganha. Porém, exige análise técnica e regulatória criteriosa.
O futuro: mais acessibilidade para todos
Com a expansão do modelo no Brasil, Santos acredita que os próximos anos trarão novas oportunidades, especialmente para CDs de médio porte.
“É uma questão de tempo até que o mercado livre seja a regra. A concorrência entre fornecedores tende a aumentar, os contratos ficarão mais flexíveis e, junto com soluções como geração distribuída e armazenamento, teremos um novo patamar de competitividade”, projeta o nosso entrevistado.
Para o especialista, a transição energética no setor logístico já começou e deve acelerar com a regulamentação de novos consumidores. Ele declara que “o mercado livre não será apenas uma opção de economia, mas sim um elemento estratégico da gestão.”
Portanto, a abertura do mercado livre de energia representa uma oportunidade de transformação para os centros de distribuição. Mais do que economia, ele oferece previsibilidade, sustentabilidade e competitividade em um cenário de pressão por eficiência.
Como resume Jovanio Santos: “O mercado livre já é realidade e, em pouco tempo, será o caminho natural para quem quer operar com mais eficiência e visão de futuro”.
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