A implementação da tecnologia 5G no setor ferroviário brasileiro promete transformar a conectividade dos ativos, melhorar a eficiência operacional e rentabilizar o negócio, mas enfrenta desafios financeiros e geográficos que precisam ser superados através de parcerias estratégicas e redes privativas.
O painel “Pavimentando o futuro: como implementar o 5G no transporte ferroviário”, realizado durante a NT Expo, reuniu Jean Prisco, Gerente Geral de Tecnologia da Informação da MRS Logística, e Rodinei Zanotto, Diretor Comercial da Teltronic, para discutir os desafios e oportunidades da implementação do 5G nas ferrovias brasileiras.
Desafios Financeiros e Viabilidade Econômica
Um dos principais pontos abordados foi a necessidade de identificar claramente os problemas de negócio que a tecnologia 5G pode resolver. Jean Prisco destacou que “a aplicação da tecnologia pela tecnologia dentro das empresas não passa da segunda curva”, enfatizando que os investimentos precisam estar alinhados com objetivos concretos que tragam receita, aumentem a produtividade ou otimizem a operação.
Rodinei Zanotto complementou essa visão destacando a importância de maximizar o uso da infraestrutura: “O mais importante é utilizar essa rede privativa e conseguir subir o máximo de serviços. O 5G, pela largura de banda, permite isso. Você não precisa ter uma solução para comunicação por voz, outra para comunicação satelital. Por que não fazer uma única infraestrutura e subir todos os serviços necessários?”, pontua.
Cobertura em Áreas Remotas
A extensão territorial brasileira e seus desafios geográficos representam um obstáculo significativo para a implementação do 5G em toda a malha ferroviária. Muitas ferrovias atravessam regiões de baixa densidade populacional que, segundo o plano de implementação do 5G no Brasil, podem demorar anos para receber cobertura.
Jean Prisco sugeriu que “as operadoras poderiam pensar em estabelecer parcerias com empresas, municípios ou até mesmo com operadoras de ferrovias e rodovias para tentar alavancar a conectividade nessas regiões”.
Por outro lado, Zanotto defendeu a implementação de redes privativas: “Se pensarmos em uma rede privativa, com uma frequência específica para essa aplicação, utilizada somente para o pessoal de ferrovias, as áreas de baixa densidade populacional não terão impacto, pois o foco seria justamente trabalhar em uma rede privativa.”
Integração com Sistemas Existentes
A integração do 5G com os sistemas existentes de controle e monitoramento das ferrovias exige atenção a diversos aspectos, como atualização da infraestrutura, interoperabilidade, segurança cibernética e testes em ambiente controlado.
Zanotto destacou a importância do FRMCS (Future Railway Mobile Communication System): “Esse novo padrão vai permitir a interoperabilidade entre os sistemas. Hoje existem muitos sistemas proprietários que, para serem integrados, precisam de adaptações. O FRMCS está sendo muito difundido na Europa e já temos algumas empresas no Brasil interessadas.”
Jean Prisco ressaltou ainda a importância do treinamento: “As pessoas têm que estar capacitadas para usar a tecnologia. Não basta colocar a tecnologia na mão, é preciso garantir a produtividade usando a aplicação que está rodando embaixo daquela rede.”
Impactos do 5G no transporte ferroviário
Os especialistas identificaram quatro áreas principais onde o 5G pode trazer benefícios tangíveis:
- Eficiência Operacional: comunicação em tempo real, melhoria na carga e descarga, e mobilização otimizada das equipes.
- Segurança: visão computacional, sensoriamento de locomotivas e vagões, detecção de anomalias e obstruções na via.
- Experiência do Cliente: para passageiros, conectividade durante a viagem; para cargas, monitoramento em tempo real da localização.
- Manutenção Preditiva: sensoriamento para medir temperatura, analisar rodeiros e condições da via, antecipando necessidades de manutenção.
“Na medida que você tem conectividade em tempo real, essas predições passam a vir de maneira mais natural”, afirmou Jean Prisco, destacando como isso pode ajudar a lidar com imprevistos que causam atrasos na operação.
Rodinei Zanotto resumiu o impacto do 5G em uma palavra: eficiência. “Seja ela operacional, a nível de usuário ou de manutenção, você vai conseguir trazer o melhor dos mundos com essas tecnologias. Você tem uma resposta em tempo real, tem as informações na palma da sua mão, consegue fazer previsões e, independente se é carga ou passageiro, você acaba rentabilizando o negócio”, explica.
Perspectivas para o futuro
Apesar dos desafios relacionados à extensão territorial, geografia e viabilidade financeira, os especialistas concordaram que existem muitas oportunidades para o setor ferroviário com a implementação do 5G.
“Existe o desafio, mas a oportunidade existe e a demanda por tecnologia está andando muito rápido. As áreas de negócio têm demandado cada vez mais insights para que a gente consiga sensoriar mais e ter tecnologias nas pontas”, concluiu Jean Prisco.
Zanotto complementou: “Temos que aproveitar essas oportunidades, fazer pilotos, provas de conceito, discutir regulação e questões de frequências exclusivas, e trazer o que temos de bom, principalmente da Europa e da Ásia, para incorporar aqui no Brasil”, finaliza.
O painel deixou claro que o futuro do transporte ferroviário brasileiro passa pela implementação estratégica do 5G, com foco em resolver problemas reais de negócio e maximizar o uso da infraestrutura para garantir retorno sobre o investimento.