Imagine atravessar a cidade de forma silenciosa, sem emissão de gases poluentes, suspenso acima das ruas congestionadas, em um veículo leve, e movido a… ar. 

Apesar de parecer, isso não é ficção científica. É o aeromóvel — uma solução que vem conquistando espaço como alternativa sustentável para mobilidade urbana e, mais recentemente, para o transporte de cargas.

Para entender melhor como essa tecnologia funciona e quais são as aplicações e os benefícios, o Modal Connection conversou com Roberto Lange Rila, especialista em Engenharia de Suprimentos e docente dos cursos de Gestão do Senac EAD, que compartilhou a sua visão sobre o presente e o futuro do aeromóvel.

Continue lendo para conhecer mais desta inovação!

Aeromóvel: leveza, eficiência e inovação

“O aeromóvel é um sistema de transporte público de média capacidade que utiliza tecnologia de propulsão pneumática – ou seja, seus veículos são impulsionados pelo deslocamento de ar comprimido, gerado por ventiladores ao longo da via”, explica Rila.

Diferente dos modais tradicionais, ele não depende de motores embarcados. Isso resulta em veículos mais leves, silenciosos e energeticamente eficientes. Além disso, a infraestrutura geralmente é elevada, o que reduz interferências no tráfego urbano e os impactos em áreas densamente povoadas.

“Em comparação com metrôs, ônibus ou trens movidos a eletricidade embarcada ou combustíveis fósseis, o aeromóvel se destaca por ser automatizado, de baixo custo de implantação e com infraestrutura simplificada”, reforça.

Outro diferencial importante é a sua versatilidade. “Além do transporte de passageiros, a tecnologia também permite aplicação no transporte de cargas leves e médias, com adequações modulares no design dos veículos e da via.”

Solução sustentável para cidades do Brasil e do mundo

O aeromóvel não é apenas uma inovação tecnológica, mas uma resposta concreta às urgências ambientais que desafiam as cidades.

Nas palavras de Rila: “O aeromóvel é uma resposta prática e viável aos desafios de sustentabilidade na mobilidade urbana”.

O funcionamento, baseado em energia elétrica, praticamente zera a emissão de poluentes locais e gera um nível de ruído extremamente baixo.

Ele explica que Porto Alegre é, até aqui, o principal exemplo prático no Brasil. O sistema funciona de forma integrada ao metrô e ao aeroporto da cidade, comprovando a eficiência. 

Mas não para por aí. “Em outros países, como Indonésia e China, estudos e projetos-piloto vêm sendo desenvolvidos com foco tanto em passageiros quanto na movimentação de cargas urbanas e industriais”, ressalta o docente do Senac EAD.

O especialista explica que essa versatilidade é chave. “Ele se torna particularmente atraente para cidades que buscam descarbonizar as suas matrizes de transporte e ao mesmo tempo aumentar a eficiência operacional em áreas urbanas críticas.”

E se o aeromóvel também transportasse cargas?

“A aplicação do aeromóvel no transporte de cargas é uma frente promissora, sobretudo em ambientes controlados como portos, aeroportos, centros de distribuição, zonas industriais e até mesmo em corredores logísticos urbanos”, explica Rila.

Ele detalha que o princípio da propulsão pneumática é o mesmo: “Veículos adaptados para carga, com vagões modulares e compartimentos específicos para diferentes tipos de mercadoria, podem ser operados de forma automatizada e ininterrupta, 24 horas por dia.”

Além da economia operacional, há outro benefício inegável: a sustentabilidade. 

“O baixo custo energético e a ausência de emissões tornam o aeromóvel um substituto ecológico e eficiente para caminhões movidos a diesel, que são hoje os principais vilões da poluição urbana em centros logísticos.”

Além disso, Rila afirma que: “Ele não interfere no tráfego urbano e pode funcionar de forma paralela aos sistemas de passageiros, compartilhando parte da infraestrutura sem comprometer a segurança ou a operação”.

Impacto econômico e ambiental positivo

Os benefícios não se limitam ao meio ambiente. Há também ganhos econômicos diretos e indiretos.

“Do ponto de vista ambiental, o aeromóvel oferece benefícios concretos e duradouros. Como opera com propulsão limpa e silenciosa, não contribui para o aumento da poluição atmosférica nem sonora”, observa Rila. Isso reflete em menos doenças respiratórias, mais qualidade de vida e avanços no cumprimento de metas de redução de carbono nas cidades.

No aspecto econômico, os custos de implantação e operação são sensivelmente menores quando comparados a metrôs ou BRTs. “O sistema exige menor investimento inicial e possui custos operacionais reduzidos, principalmente por não demandar condutores e por utilizar energia de forma mais eficiente”, explica o professor.

Ele também destaca o impacto no setor logístico: “No transporte de cargas, isso se traduz em economia logística, menor desgaste da malha viária urbana e redução da dependência de caminhões.”

Em ambientes como portos e polos industriais, uma linha de aeromóvel pode gerar ganhos substanciais de produtividade. “Isso agiliza o embarque e desembarque de produtos, otimiza o fluxo interno de materiais e reduz drasticamente o tempo de operação”, acrescenta Rila.

Superando desafios: da desconfiança à realidade operacional

Nem tudo foram trilhos aéreos tranquilos. A trajetória do aeromóvel enfrentou resistências e desafios.

“Como acontece com qualquer inovação disruptiva, o aeromóvel enfrentou inicialmente desconfiança e resistência, especialmente pela falta de referências práticas em larga escala”, lembra Rila. A preferência por tecnologias tradicionais — mesmo que mais caras e poluentes — foi uma barreira inicial considerável.

O financiamento também foi e continua sendo um desafio. “A solução foi buscar parcerias público-privadas, além de desenvolver projetos-piloto, como o sistema de Porto Alegre, que demonstrou na prática a viabilidade da tecnologia”, conta o especialista.

Na área de cargas, o caminho ainda é desafiador, mas promissor. “O modelo logístico ainda é muito centrado no transporte rodoviário. Porém, com o crescimento da demanda por soluções verdes e a pressão por eficiência, o aeromóvel tem ganhado espaço em estudos de viabilidade para logística urbana limpa”, opina o nosso entrevistado.

Além do aeromóvel, outra tecnologia de destaque é o hyperloop, considerado o transporte ferroviário do futuro. Leia agora nosso artigo que fala sobre isso