A eletrificação ferroviária, ainda tímida no Brasil, desponta como alternativa estratégica para modernizar a malha ferroviária nacional, reduzir emissões e fomentar o desenvolvimento sustentável.

Para entender os caminhos — e trilhos — dessa transformação, o Modal Connection conversou com Luís Henrique Baeta, sócio da Aroeira Salles Advogados e especialista em infraestrutura. Segundo ele, os ganhos da eletrificação vão muito além da sustentabilidade.

Saiba mais sobre estes avanços ao longo deste artigo!

Uma nova energia nos trilhos

“Não se trata apenas de energia limpa, mas de eficiência operacional, saúde pública e economia de longo prazo”, destaca Baeta.

Segundo o especialista, os trens elétricos produzem menos ruído, não emitem poluentes diretos e têm melhor desempenho em aceleração e frenagem. 

Em suas palavras: “Isso reduz o tempo de viagem, o consumo de energia e os custos com manutenção. É uma equação que, no longo prazo, se torna bastante vantajosa.”

Rumo à descarbonização

A eletrificação ferroviária tem um papel-chave na redução de emissões de carbono

“Os trens elétricos, especialmente quando integrados a uma matriz energética renovável, eliminam a dependência de combustíveis fósseis e podem reduzir drasticamente a pegada de carbono do transporte ferroviário”, afirma Baeta.

Além do CO₂, a substituição do diesel também diminui outros poluentes atmosféricos como óxidos de nitrogênio e material particulado — vilões da qualidade do ar, especialmente em áreas densamente povoadas ou com pouca ventilação, como túneis.

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Políticas públicas que empurram os trilhos

O cenário institucional começa a se alinhar aos objetivos de eletrificação. Baeta cita o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), que prevê R$ 94 bilhões em investimentos no setor ferroviário até 2026. 

“Projetos como o Trem Intercidades São Paulo–Campinas mostram como PPPs e incentivos fiscais, como o REIDI, já estão viabilizando a aquisição de trens elétricos”, explica o especialista.

A inclusão das ferrovias eletrificadas no escopo do Fundo Clima, do BNDES também é um exemplo de política pública voltada para a área.

“Isso amplia o acesso a financiamentos voltados à sustentabilidade, incluindo material rodante e infraestrutura elétrica”, diz Baeta.

Alta velocidade, baterias e inovação

Se o futuro é eletrificado, ele também é rápido e adaptável. Entre as tendências destacadas por Baeta, estão os trens de alta velocidade e as locomotivas movidas a baterias ou hidrogênio. 

“O TAV Rio–São Paulo é um exemplo emblemático de como a eletrificação pode modernizar a mobilidade entre grandes centros, com eficiência energética e impacto ambiental reduzido”, aponta o advogado.

Ao mesmo tempo, tecnologias híbridas ganham espaço. Conforme Baeta, as “locomotivas que combinam baterias e diesel são testadas em corredores de carga, como na Estrada de Ferro Carajás, em parceria entre a Vale e a Wabtec. Elas prometem reduzir em até 30% o consumo de diesel, mesmo em trechos não eletrificados.”

Ferrovias que puxam o PIB

A eletrificação também pode ser motor de crescimento econômico, especialmente em países emergentes. 

Segundo Baeta, estudos do BID e do Banco Mundial mostram que a descarbonização do transporte pode gerar mais de 1 milhão de empregos líquidos até 2030 na América Latina e aumentar em até 2,8% o PIB dos países do G20 até 2050.

“O impacto vai além do meio ambiente. Trata-se de desenvolver tecnologia, criar empregos, atrair investimentos e melhorar a competitividade logística de todo o país”, resume o representante da da Aroeira Salles Advogados.

Tornando a transição mais acessível

Mas nem tudo são trilhos retos. A eletrificação enfrenta obstáculos técnicos e econômicos, sobretudo em malhas com baixo volume de tráfego. 

“A instalação de catenárias e subestações exige uma densidade operacional mínima para justificar o investimento”, explica Baeta.

Para esses casos, soluções tecnológicas alternativas ganham fôlego. Segundo o especialista: “O retrofit de locomotivas a diesel com baterias ou hidrogênio é uma alternativa viável. Isso evita o descarte de material rodante e reduz os custos da transição.”

Digitalização: inteligência a serviço da malha

A digitalização é outro trunfo que pode acelerar a eficiência das ferrovias eletrificadas. 

“Com sensores e monitoramento em tempo real, é possível prever falhas, planejar manutenção de forma inteligente e otimizar o uso da infraestrutura”, afirma Baeta.

Mas ele alerta: “A tecnologia sozinha não resolve tudo. É preciso integrar departamentos como engenharia, manutenção e TI para que a digitalização traga resultados concretos.”

Segurança jurídica e novos modelos de negócio

A regulamentação também evoluiu para estimular investimentos. A Lei nº 14.273/2021 criou o regime de autorizações ferroviárias, que permite que empresas privadas proponham e executem projetos sem passar por leilões tradicionais.

“Isso dá agilidade e flexibilidade, elementos essenciais para projetos inovadores como os de eletrificação, que demandam soluções sob medida, aportes progressivos e contratos adaptáveis”, destaca o advogado.

Um elo para a sustentabilidade nacional

Mais do que um upgrade técnico, a eletrificação ferroviária representa um elo estratégico na construção de um sistema de transportes sustentável. 

“Ela conecta compromissos climáticos, mobilidade urbana, segurança energética e até reindustrialização verde, com a produção nacional de equipamentos e sistemas”, afirma Baeta.

Ao substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis, reduzir ruídos e poluentes, e aumentar a eficiência do transporte de cargas e passageiros, os trilhos eletrificados pavimentam uma rota sólida para o futuro.

Baeta conclui dizendo que: “A eletrificação promove deslocamentos mais limpos, redução do tráfego rodoviário e estímulo à reindustrialização verde”.

E, diante de um cenário global que exige ação, essa é uma decisão que pode colocar o Brasil nos trilhos certos.

Para entender mais sobre expansão ferroviária e outros assuntos envolvendo o setor de modais e transporte, continue acompanhando o Modal Connection!

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