O setor ferroviário brasileiro está passando por uma transformação significativa com a chegada das ferrovias inteligentes, que unem tecnologia de ponta e gestão operacional avançada.

Neste sentido, a automação ferroviária tem se mostrado essencial para otimizar o transporte, reduzir riscos e aumentar a eficiência das operações.

Por meio de sistemas digitais modernos, é possível melhorar o controle operacional das composições, monitorando em tempo real a velocidade, a posição dos trens e as condições da via.

Além disso, essas inovações garantem maior segurança, prevenindo acidentes e minimizando falhas humanas.

Para entender como essas tecnologias estão sendo aplicadas no Brasil e quais impactos podem trazer para passageiros e operadores, conversamos com José Manoel Ferreira Gonçalves, engenheiro civil e presidente da FerroFrente. Confira a seguir!

Sistemas digitais: otimização do monitoramento e segurança nas ferrovias

José Manoel Gonçalves explica que os sistemas digitais permitem acompanhar em tempo real tudo o que acontece na via.“Eles reduzem a dependência do erro humano, que é uma das principais causas de acidentes, e atuam de forma preventiva”, observa.

“Sensores instalados nos trilhos e nos próprios trens identificam falhas antes que se tornem problemas graves; softwares de controle, como o CBTC, monitoram a distância entre composições e aplicam frenagens automáticas quando necessário”, exemplifica.

Tudo isso, segundo ele, garante mais previsibilidade, segurança e eficiência no transporte.

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Ferrovias inteligentes: quais são e como funcionam esses sistemas?

Conforme o entrevistado, existem vários exemplos de sistemas digitais que podem ser citados. Ele começa pelo Communications-Based Train Control (CBTC).

“O CBTC funciona por meio de comunicação contínua entre trem e centro de controle, garantindo intervalos menores entre viagens sem risco de colisão. Já é realidade na Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo”.

Outro exemplo citado por Gonçalves é o ETCS Level 2, que será implantado nas Linhas 8 e 9 da CPTM, em parceria com a Alstom, e que é hoje o padrão europeu mais avançado.

“Também existem detectores ao longo da via que identificam problemas em rodas e rolamentos, equipamentos que já salvaram muitas vidas em países onde foram adotados em larga escala”, comenta.

Na opinião do presidente da FerroFrente, o Brasil está começando a caminhar nesse sentido, mas ainda de forma muito tímida e pontual.

A digitalização no avanço do setor ferroviário no país

De acordo com Gonçalves, a digitalização traz três ganhos claros: segurança, capacidade e eficiência.

“Segurança, porque reduz drasticamente o risco de acidentes. Capacidade, porque permite operar mais trens com menor intervalo, sem comprometer o passageiro. E eficiência, porque ajuda a planejar a manutenção antes que o problema aconteça, reduzindo custos e evitando paralisações emergenciais”.

Contudo, Gonçalves faz um alerta, observando que outros aspectos devem ser levados em conta neste processo.

“De nada adianta ter tecnologia de ponta se não houver fiscalização independente, gestão responsável e compromisso social das concessionárias. Segurança ferroviária não pode ser vista como despesa, mas como investimento estratégico”, reitera.

Novidades que devem surgir com o avanço dos sistemas digitais para ferrovias

Muitas novidades são esperadas com o avanço do uso dos sistemas digitais nas ferrovias brasileiras. 

“O futuro aponta para a IA auxiliando no controle em tempo real, para os chamados ‘gêmeos digitais’, que simulam cenários e previnem falhas, para drones e robôs de inspeção da via e para a expansão de redes 5G privadas que transmitirão dados instantâneos entre trem, via e centro de controle”, aponta Gonçalves.

Entretanto, acima de qualquer inovação tecnológica, a grande novidade que o Brasil precisa, na opinião do entrevistado, é apenas uma:

“Uma decisão política de colocar a vida do passageiro em primeiro lugar. A digitalização pode transformar o transporte ferroviário, mas só fará sentido se for usada para servir à sociedade e não apenas ao interesse financeiro”, conclui.

A digitalização da operação ferroviária representa um passo decisivo para modernizar o transporte no país. Com sistemas inteligentes, sensores avançados e automação, é possível aumentar a capacidade, reduzir riscos e garantir viagens mais seguras e eficientes.

No entanto, o sucesso dessa transformação depende não apenas da tecnologia, mas também de gestão responsável, fiscalização efetiva e compromisso com o interesse público. O futuro das ferrovias brasileiras será tão promissor quanto à prioridade dada à segurança e à inovação.

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